Dizem os psicólogos que frustração é o que acontece quando não satisfazemos uma necessidade. Quando empreendemos vários esforços, no sentido de alcançar algo, mas não conseguimos.
O que sentimos? Tristeza. Raiva (ás vezes). Angústia.
Frustração também é remar remar remar, e não sair do mesmo sítio.
Fica muito energia acumulada, o que faz com que se instale um grande nevoeiro e fica muito difícil ver algo para além disso.
A reacção é física. O nosso organismo desequilibra-se. Agita-se. E o sentimento vai se espalhando pelo corpo todo.
“Frustração adoece o corpo, a mente, a alma, deforma os olhos cristalizando o verbo do mal em atos” (Mônicka Christi)
A questão é: como se sai deste estado? Com paciência, dirão uns. Com força de vontade, dirão outros. Porque tem que se aprender e andar para a frente, dirão muitos também.
Concordo com todas.
Mas agora vamos recuar um pouco. Com as birras das crianças, como fazemos? Quando elas estão tão frustradas e zangadas, que só choram e gritam? As palavras de calma, resultam? Mostrar compreensão, resulta? (Vá, as vezes até sim). Mas o que resulta (na maior parte das vezes) é “mudar de cenário”, desviar a atenção para outro assunto.
Pois é. É este o comportamento que para mim faz mais sentido. Mudar o foco. Não é dizer, não vou pensar mais nisto. É entreter a mente com outra coisa.
É óbvio que cada caso é um caso. E que nalguns casos é mais fácil do que outros. Mas julgo que tudo é uma questão de treino. Primeiro vamos fazendo por obrigação, e depois acaba por fluir naturalmente.
[Tristes aqueles, que em vez de mudar o foco, descarregam a sua frustração nos outros, projectando nos outros aquilo que eles não conseguem para eles]
Hoje, num consultório, enquanto aguardo a minha vez para ser atendida, observo a seguinte família. Mãe, pai, criança de 4 anos, bebé de pouco mais três meses. A criança de 4 anos, era quem tinha a consulta. E os outros iam todos a acompanhar. Bem sei que não tenho nada a ver com a vida das pessoas, e se elas fazem questão de ir em “bando” para um hospital, pois muito bem, é lá coisas com eles. E mais ainda, se não se importam de sujeitar uma criança de meses aquele ambiente, pois muito bem, também é com eles.
A criança estar com fome, a chorar, e a mãe não ir dar de mamar, porque estava com receio que a vez do filho chegasse e ela depois não estava ali disponível (juro que ouvi esta conversa entre os pais), já é coisa que me começa a irritar.
Agora uma coisa que me consegue tirar realmente do sério é ver um pai, que está mais preocupado em “mexer” no telemóvel, do que propriamente “olhar” pelas criancinhas. Para garantir, que a bebé não chorava, virou o carrinho para ele, não olhava para a criança, mas ia abanando o carro. E ela ali, a dar aos braços, a palrar, a pedir atenção. Enquanto ele, olhava para o telemóvel.
Aprendi a fazer isto. A escolher aquilo em que penso. Quando a sombra das "ideias" más começa a aparecer, digo, não, não vou pensar nisso. Escolho algo que me faça bem e penso sobre isso. Aprendi a focar na solução. Aprendi a escolher os problemas. Penso: Consigo resolver? Sim. Óptimo, vamos a isso. Não consigo resolver? Fica para depois, sai da minha cabeça. E mudo o foco. Só falta uma coisa. Aprender a escolher só os sentimentos positivos. É mais difícil. Mas vou no bom caminho.
Esvaziar a mente. Só por uns minutos. Gostava de ser capaz. Já li algumas coisas sobre meditação. Já tentei algumas das técnicas. Mas não consigo esse “desligamento”. Os pensamentos estão sempre a vir a tona. Verdade seja dita, o meu cérebro sempre foi muito “desassossegado”. Consigo fazer várias coisas ao mesmo tempo. E consigo prestar atenção, a várias situações ao mesmo tempo. Talvez seja uma “herança” da actividade de formadora, pois sem dúvida nenhuma que essa é uma característica fundamental para o exercício de tal profissão.
Mas gostava. De esvaziar. Por uns breves minutos que seja. Silenciar o meu cérebro.
Na verdade, gosto de ser assim. Sempre Acelerada. Sempre Comunicativa.
Pega num espelho (ou algo a fingir que seja um). E diz (com voz a fingir que é a bruxa má): “espelho meu, espelho meu, há alguém mais belo do que eu?” E depois responde, novamente em tom dramático, com voz colocada: “é a branca de neve”. Adora “teatralizar”.
José Saramago é o meu autor favorito. E o “Ensaio sobre a Cegueira”, é o meu preferido dos preferidos.
A obra é intemporal (aliás, como todas as obras que conheço dele). A metáfora à sociedade actual, e à condição do ser humano é do mais bem construído que já alguma vez li. [Que eu li, note-se. Não sou propriamente uma super entendida no assunto]
“- Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.” (SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira.)
Nesta “história” Saramago relata-nos a “história” de um “país” onde todos, à excepção de uma pessoa, ficam cegos. Faz lembrar a ideia de um lúcido, no meio de loucos. Quem é o louco afinal? E quem é o cego? Aqueles que não vêem, ou aqueles que vendo, não conseguem ver o que todos os outros não vêem?
Está confuso não está?
O que eu quero dizer é o seguinte: a tendência actual, é vermos o mundo, com os olhos dos outros (internet, tv, comunicação social, no geral), e aquilo que nos chega (que vemos), é aquilo que estes órgãos escolhem mostrar (ou aquilo que eles próprios vêem). Ao não escolhermos as nossas fontes de informação (ou diversificá-las, vá), não vemos aquilo que estes (que escolhem o que nos querem mostrar) não vêem.
E é isto que somos. Formatados.
[E depois, aqueles que não são cegos, que vêem aquilo que querem e com os seus próprios olhos, é que são os cegos, que não querem ver o que toda a gente vê (os loucos, portanto)]
Se me apetece um sumo de laranja, por raio deverei aproveitar os limões que a vida me dá, para fazer uma limonada?
Se as pedras são tão pesadas, porque as vou guardar todas se nem sei o dia em que vou construir o castelo?
Porque é que para alguns uns limões são tão doces, e para outros nem com açúcar a limonada se bebe?
Porque é que para alguns basta pensarem na simples ideia de construir um castelo, as pedras aparecem logo, e outros têm que as ir apanhar a tudo o que é lado, e na maior parte dos sítios nem as encontram?
Aceitar aquilo que a vida nos dá. É algo difícil de “engolir”.
Mal por mal prefiro isto: Esquece o passado. Vive o presente. Dá pouca importância ao futuro.
Isto cada vez está mais instantâneo. Aquilo que sinto é que as pessoas estão em todo o lado, sem realmente estar. Vão a um museu, e aquilo que querem fazer é partilhar nas redes sociais que ali estão. Vão a uma conferência, e não ouvem nada daquilo que está a ser dito. Só pensam em fotografar e partilhar. Estão num jantar com amigos, e a primeira coisa que lhes vem a cabeça é tirar uma foto, e partilhar. Parece que precisam de provar a toda a gente que tiveram aquelas experiências.
E VIVER as experiências? E ouvir as pessoas? E olhar para o que vos rodeia? E ESTAR realmente nos sítios?
Tirem fotos, sim. Partilhem as vossas experiências, sim. Mas saboreiam-nas primeiro.
Educar. Esta tarefa tão difícil de balancear regras, com deixá-los ser eles próprios.
Sem dúvida que somo nós, os pais, a família nuclear que lhe transmite as principais regras de saber estar com os outros, de se relacionar com os outros. É neste grupo mais próximo no qual a criança está inserida, que recebe os principais valores que lhe são transmitidos. O que é certo e o que é errado. Aquilo que deve e não deve fazer. Aquilo que lhe é dito como sendo a verdade. E é por aí que deve seguir.
Mas como balancear isso com a definição da sua personalidade? Como é que eles começam a criar as suas próprias verdades?
Com o tempo, sem dúvida. Acho que é este o nosso principal desafio. Criar as condições. Dar-lhe as ferramentas, para que eles próprios comecem a escolher.
Confesso que para mim não é fácil. Primeiro, porque sempre gostei que as coisas fossem feitas a minha maneira. Depois, porque sempre gostei de controlar a situação, isso deixa-me mais segura. E depois, porque muitas vezes me falta paciência.
Mas as “criancinhas” são persistentes. Querem crescer. E lutam contra isso. Contra “os pais ditadores”, mas sempre a querer o ninho da protecção. Mas este ninho não está sempre presente. É preciso que eles aprendam a “acotovelar-se” entre eles.
E assim. Entre aquilo que nos ditamos como “tem que ser assim”, e aquilo que eles próprios vão experimentando, com todas as suas vitórias e frustrações, que vão crescendo, e sim, criando as suas próprias verdades.
[Será?... Só sei uma coisa: eu procuro fazer o meu melhor]