Porque é que as minhas manhãs são sempre uma correria?
Porque é que assim que me levanto, começo logo a fazer uma série de coisas, sem dar tempo ainda aos meus olhos de abrirem e ao cérebro de processar?
Porque é que faço tudo a despachar, sem abrir as janelas sequer e ver como o dia amanheceu?
Porque é que estou sempre em stress?
Porque é que estou sempre a dizer “despacha-te”?
Porque é que não relaxo?
Porque é que não acordo devagar, abro as janelas, aprecio o que há minha volta, inspiro o ar da manhã para ganhar energias para o resto do dia?
Não, não é por acordar tarde. Acordo cedo. Mas provavelmente, se quero isto tudo, vou ter que acordar ainda mais cedo.
[Estes pensamentos vieram-me hoje à ideia, porque só quando me meti no carro é que vi a humidade que estava hoje lá na aldeia, com o nevoeiro cerrado da serra de Sintra. E a pessoa põe-se a pensar: “mulher, tu só vives, nem pensas”. E isto chateia um bocadinho]
Ando assim um bocadinho irritada com uma série de coisas, mas sem nada em particular. Farta de tudo e de todos. E ao mesmo tempo, a querer tudo e todos. Parece que cada vez que abro a boca, digo algo que incomoda outrem. Mas ao mesmo tempo, a minha opinião está sempre a ser solicitada. Não acerto uma. Parece que estou sempre “out”. Com vontade de me isolar e fechar no meu “mundinho”.
Não o publiquei. Ficou guardado nos rascunhos. Aqueles desabafos que se escrevem, mas depois guardamos quietinhos.
Não publiquei. Mas era exactamente o que sentia na altura. E foi isso mesmo que fiz. Fechei-me na minha conchinha durante uns tempos. Às vezes é preciso. Às vezes ninguém nos conhece a não ser nós mesmos. Esta necessidade constante que temos de estar com os outros. De ouvir os outros. De partilhar com os outros. Os meus outros são “curtinhos”. São os MEUS. De qualquer das formas, às vezes até o pouco é demasiado.
Assim, fechei-me. Calei-me. Deixei-me estar só, no meu "mundinho". De volta da minha essência. Dei por mim a recordar momentos com mais de 20 anos. Andei portanto, a lembrar-me de quem sou.
E aos poucos, fui voltando a mim. E aos outros. Aos MEUS outros.
Diz que era para ter sido ontem. Mas o noivo faltou à escola, porque fazia anos. "E eu não ía casar com outro não é?! Porque o S. é o melhor. Assim calmo, como eu"
De maneiras que ficou adiado para hoje, quando forem ao parque.
"Mas ele quer casar contigo?", pergunto eu.
"Obviamente que sim", responde ela.
"E ele sabe que é amanhã?"
"Eu não sei se ele está preparado", responde ela.
"Mas quando é que combinaram?"
"No outro dia, à hora de almoço. Antes de eu ir de férias. Combinamos para 2ª feira"
"Então e depois de casarem, como vai ser?"
"Então, temos que organizar as coisas da nossa casa. Ir às compras. Essas coisas. Já tratámos dos papeis"
Falou com alguém ao telefone, reconhecendo a voz de algum lado mas não sabendo quem é, e passou os primeiros segundos a fazer de conta que "sim senhor", mas a pensar "quem é? quem é?"
Uma fantástica decisão. Uma bela brincadeira. Um desafio interessante que coloquei a mim própria e não pensei que fosse conseguir. A dormir melhor. Com menos dores resultantes de má postura. Mais bem disposta. A comer muito melhor.