Desapareci quase no final da caminhada para o Natal.
No dia 20 faleceu um familiar. E a situação foi estranha nos dias que se seguiram.
Chapadas que a vida nos dá. Andámos todo o ano a privarmos-nos de estar uns com os outros, e depois por este motivo tão triste, tivemos que estar todos juntos.
Mas os dias foram andando.
A Maria fez 8 anos no dia 21 de Dezembro. Fizemos a festinha só nós os 4.
Mandámos fazer um bolo (chefpanda, recomendo). E o pai no dia anterior foi a casa da avó deixar uns miminhos de Natal, e trouxe as melhores filhoses que há (não, não estou a exagerar).
No dia 22, fui arrancar um dente. Tenho os dentes do ciso a darem-me chatices há meses. Um já foi embora. Passei o resto do dia deitada no sofá. Estava estranha. Anestesia, adrenalina a baixar, tristeza. Tudo junto.
No dia 23, o funeral.
E chegamos a dia 24. O marido saiu logo de manhã para ir buscar os doces que tínhamos encomendado. De manhã, demos um jeitinho à casa. Pusemos a mesa bonita com os doces. E vivemos o nosso Natal. Fizemos a nossa Ceia. E depois chegou o Pai Natal. Abrimos as prendas cedo. A Maria, doida com todas, como sempre. A Marta abriu a primeira, gostou, já não quis saber de mais nada. Era um tambor, só queria era brincar com o tambor.
No dia 25, tudo tranquilo também. Por casa. Ainda conseguimos aproveitar um solinho no quintal e elas estiveram a brincar lá fora.
Tive sossego, que foi o que sempre quis e pedi. Contudo, é verdade. Só damos valor, quando não temos. Sabem lá a falta que me fez a confusão com os meus irmãos e os meus sobrinhos. Todos juntos. Enfim, é o que é.
No dia 27, a minha mãe e a minha irmã vieram cá a casa, para estarem um bocadinho com as meninas. Foi bom.
E acabaram-se as férias.
Esta semana estou em teletrabalho. A Maria está por casa, em férias escolares, mas a Marta está a ir à creche.
Tinha tirado a tarde de férias para o caso de no último dia de aulas a Maria sair mais cedo. Contudo, o horário foi normal.
Logo decidi. Em vez de ir para casa e pôr-me a fazer tarefas domésticas, vou mas é aproveitar a tarde.
E assim foi.
Mas primeiro, a manhã. A Maria lá foi toda orgulhosa levando o seu presente para o professor. E eu entreguei os três saquinhos a uma das auxiliares. Feedback muito positivo. Todos gostaram do miminho.
A manhã passou a correr. Tive que deixar as coisas orientadas, pois 2 feira estarei de férias, e a restante semana em teletrabalho. Organizei tudo o que precisava trazer, e as 13h saí.
Primeira paragem: ir levantar a prenda de aniversário da Maria à loja. Aproveitei e ainda comprei uns livrinhos aqui para uns bebés da aldeia.
Segunda paragem: casa. Tirei a roupa da máquina, pus outra a lavar (eu não disse). E saí de casa.
Terceira paragem: cabeleireiro. Fui pintar o cabelo, e tratar dos pelos da cara. Tudo o que precisava para melhorar o meu astral
Saí de lá às 17h. Mesmo em cima da hora de ir buscar a Maria.
Lá fui buscar ambas. Primeiro a Maria, depois a Marta. Ambas cansadas, e felizes. Tiveram um dia em cheio, com muitas atividades, e presentes. Cada uma tinha um presente da escola, e presentes para os pais, feitos por elas (a Marta com MUITA ajuda, claro).
Levar as miúdas à escola (Não consigo compreender porque é que nos dias em que fico em teletrabalho, consigo fazer com que elas se despachem a tempo e horas e saímos de casa mais cedo, e sem stress).
Chegar a casa. Ligar o pc e começar a trabalhar. Fazer uma pausa a meio da manhã. Desafio: arrumar as gavetas das miúdas em 15 minutos. Desafio cumprido e volta ao pc.
Estender roupa enquanto o almoço se faz.
Moer café. Colocar na máquina de filtro. Enquanto o café sai, ir até ao quintal dar umas festas aos cães.
Pegar numa caneca e escolher esta.
Recuar até 2009. Em Paris, onde comprámos esta caneca. A nossa primeira viagem juntos. Onde acendemos uma vela à Joana d'Arc na Catedral de Notre-Dame . Onde caminhamos pelas ruas de Montmartre. Onde passeamos pela Avenue des Champs-Élysées. A emoção de ver a Torre Eiffel ao vivo. A noite de passagem de ano, só nós os dois, mais um monte de desconhecidos na rua. As caminhadas e caminhadas, com frio. Onde senti a neve a cair pela primeira vez. O melhor crepe de chocolate que comi, e me aqueceu depois de 45 minutos à espera na fila para subir a Torre Eiffel (em que acabei por te pedir para desistirmos). E NÓS. Nós os dois. Que há poucos meses nos tínhamosconhecido e já nos sentíamos um do outro.
Adoro as minha miúdas. São o que mais precioso tenho. Mas tenho também muitas saudades do tempo em que éramos só eu e ele. E recordar isso tudo, lembra-me o que é mais importante. Eu. Ele. As miúdas. Eu e Ele. Nós e as miúdas. Sem nenhuma ordem de importância. Mas não esquecer nunca que tudo é importante. Tudo conta. E em tudo temos que experimentar a felicidade. Até porque a felicidade não é o destino. A felicidade é o caminho.
Tudo pensado com papel de embrulho diferente para os presentes de aniversário da Maria, para ela não começar com as suas suspeitas. No final, arrumei tudo, para ela não ver nada quando chegasse a casa.
Mas...
Guardei o rolo das etiquetas. Deixei a caixinha à vista. "Mãe, o que é isto?" Disse ela quando chegou. "Ah, é lixo que encontrei para aí".
Quando fui guardar a tesoura ao quarto dela, levei comigo o rolo de fita dos lacinhos e, por lapso, deixei em cima da secretária dela. "Mãe, o que é isto?" (What???) "Ah, é uma fitinha que a mãe comprou para fazer uns lacinhos para aqueles frascos".
Pouca coisa lhe escapa de facto. E eu? Burra. Como me fui esquecer destas coisinhas.
Enfim. Já vai fazer 8 anos. No fundo no fundo, ela já sabe que o Pai Natal não existe, mas ela quer continuar a acreditar, e por mim, é continuar. Eu nunca acreditei. Mas acho que este imaginário só lhe faz bem.
E vocês, vão mantendo a magia? Como gerem as desconfianças que vão surgindo?
Um verdadeiro exercício de coragem, determinação e força para alcançar.
“Diz que não tem inimigos?
Que pena! Meu amigo,
gaba-se de coisa pouca;
pois aquele
que deu o corpo às balas pelo dever,
que os corajosos aguentam,
devem ter feito inimigos!
Se não tiver nenhum,
é porque não fez trabalho algum.
Não deixou nenhum traidor aleijado,
não arrancou um copo de lábio perjurado,
nunca corrigiu algo que estava errado,
na luta, foi um acobardado.”
[Hoje é sexta-feira. A semana foi atribulada. Como é que uma semana tão curta deixa tantos estragos. Tenho a casa cheia de roupa para lavar, roupa para secar, lixo para levar para a rua. Espirito natalício?! Só mesmo quando se acedem as luzes da àrvore]
Fui ver dos meus cães. Enroscadinhos na sua casota. Nem deram por eu chegar ao pé deles.
Apanhei a roupa que tinha estendido no dia anterior de manhã. Se secou durante o dia, com a chuva da noite voltou a molhar-se. Coloquei na máquina de secar.
Hoje levantei-me ainda mais cedo e consegui fazer tudo com mais calma. [Mas não tomei o pequeno almoço]
Acordei as miúdas. A Marta mantinha o quadro do dia anterior.
Deixei a Marta na creche a uma educadora "meio desconfiada". Mas calma, depois de ver o relatório da urgência.
Maria na escola.
Caminho para o trabalho: chuva e nevoeiro.
Trabalho.
Regresso a casa. Andar a fugir do trânsito. Tudo parado. Mais chuva. Muito nevoeiro.
Ir buscar a Marta, já das últimas. Vinha a comer pão, toda satisfeita.
Chegar a casa.
Deixar as miúdas brincar, enquanto se orientam umas coisas.