Preciso que as minhas filhas brinquem com os primos.
Preciso de ver o pôr do sol na praia.
Preciso de sair para almoçar fora.
Preciso que as minhas filhas vão para a escola.
Preciso de fazer uma massagem longa.
Preciso de férias fora de casa.
Preciso de trabalhar no trabalho.
Preciso de estar sozinha a hora de almoço.
Preciso que as minhas filhas estejam com os avós.
Preciso de almoços longos com amigos.
Preciso de ir a um shopping ver montras.
Preciso de ir ao cinema e comer um balde enorme de pipocas.
[Eu bem sei que isto é o que é. Que temos de nos conformar. Que é só um esforço e logo vai passar. Que temos que olhar para o que temos e ver o bom. Blá, blá, blá.]
2021. Dia 2 de Fevereiro. Hoje foi um dia bom. Sinto que o dia não passou por mim, mas sim eu pelo dia. As miúdas entreteram-se mais tempo sozinhas. As atividades que propus foram bem aceites por ambas. Consegui trabalhar e ter ideias. Caminhámos na rua, ainda que apenas os poucos metros que as pernas da Marta permitiram. Hoje não me irritei nem me angustiei com a falta de sossego. Hoje foi um dia bom. Venham mais assim.
Têm sido dias estranhos. Sinto os nervos à flor da pele, zangada por estar novamente fechada só com as miúdas. A Marta está numa fase que precisa de atenção constante. Anda apenas de mão dada, mas não para um bocado. A Maria se eu não lhe disser nada, passa o dia a jogar. Às vezes só me dá vontade por cada uma num ecrã e pronto, ir à minha vida, trabalhar. E às vezes tem mesmo que ser. Mas a culpa, a revolta comigo mesma é com tudo em geral, é lixada.