[Sinto-me triste. Apática. Desinteressada. Desmotivada. Desligada. Os dias são todos iguais. Custa-me chegar ao trabalho. Custa-me chegar a casa. Vagueio enquanto pensam que estou. Divago, enquanto pensam que escuto. Continuo a conversa onde estou, sem acrescentar nada. Digo parvoíces para afastar a névoa escura que está a minha volta. Digo que estou bem, à pergunta como estás? Diga tudo ok à pergunta o que se passa? Não me apetece chorar.Não me apetece rir. Rio demasiado de uma piada para me convencer que estou divertida.]
Os dias sucedem-se uns atrás dos outros, todos iguais.
Acordar. Preparar lancheiras. Alimentar animais. Preparar pequenos almoços. Um sai. Outra sai.
Vestir-me. Vesti-la. Sair.
Escola. Trabalho. Hora de almoço. Trabalho. Casa.
Arrumar. Alimentar animais. Jantar. Arrumar.
Todos os dias. Sempre igual.
Ao menos hoje consegui cumprir com tudo o que tinha previsto para hoje. Em casa, no trabalho e até durante a hora de almoço.
Nada de mau a apontar.
É assim que vamos avaliando os nossos dias. Cumprimos? Atrasamo-nos? Discutimos?
Um dia de cada vez.
O de hoje já está.
As miúdas já estão deitadas.
Eu estou pronta para a minha "fuga": os meus livros.
As palavras são a minha terapia. Pela leitura. E através da escrita. Leio para ir para outra realidade. Escrevo como desabafo e como diário para memória futura. Para me lembrar de quem sou. O que sinto.
Aquilo que senti na chegada àquele Santuário nunca irei esquecer.
Este caminho faz-me bem.
Não é só o destino que importa. É como fazes o caminho. As escolhas que fazes. As emoções tão controversas que sentes. As pessoas que se cruzam contigo.
Aquilo que aprendes por observação.
Sobre os sinais que vais recebendo, basta que estejas disponível para os receberes, que estejas atento.
É como a vida. As vezes tão fácil, que até custa a acreditar. Outras vezes tão difícil que achas que não consegues aguentar. Mas aguentas. Seguras. Gritas. Revoltaste. Mas segues em frente, sempre. Porque só assim pode ser.
Uma gargalhada inesperada, de uma piada tão aparvalhada. Uns braços pequeninos que me rodeiam e me dizem que sou amada. Um comportamento tão parecido comigo, que mostra que alguém que ja foi pequenino está a crescer. Uma caminhada sem meta e sem duração. Cheiro de bolo acabado de fazer. Horas de leitura. Gritos que discutem, logo seguido de gargalhadas até as lágrimas. Um olhar que mostra amor, companhia, sedução.
Quando deixo de comparar o que tenho com aquilo que gostaria de ter, e passo a contemplar aquilo que tenho e a vida que tenho, sou muito mais feliz.
Estamos constantemente presos em comparações. Com os outros. Com aquilo que imaginamos no passado que seria o nosso futuro. Até mesmo com o nosso passado.
Mas há sempre algo que nos arrebata e nos diz que o importante é o presente. Um sol que surge depois de dias escuros. Um sorriso. Uma perda. Uma rasteira. Uma desilusão. Uma observação inesperada de uma das minhas filhas que me faz rir à gargalhada. O monte de roupa que não se passa sozinha.
A vida é para ser vivida. Não comparada. Não esperada, mas sim presenciada.