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Cá coisas minhas

Este é o meu blog. Um blog generalista, onde falo sobre as minhas coisas. As coisas que me vêm à cabeça.

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21
Abr17

Humanidade [Escrevendo sobre a palavra]

hu·ma·ni·da·de

(latim humanitas, -atis)

substantivo feminino

  1. O conjunto dos homens.
  2. Natureza humana.
  3. .Gênero humano.
  4. Bondade.
  5. Benevolência, compaixão.

"humanidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/DLPO/humanidade 

 

Ao ler este artigo, reflecti sobre algo que me tem sempre afligido: a falta da humanidade na humanidade. Confuso? Eu explico.

[Mas preparem-se porque a reflexão vai ser longa e vai bater em muitas coisas]

Não tive a minha filha neste hospital, mas em outro (igualmente público). E apesar de não ser totalmente igualmente ao que aqui está descrito, e apesar de ter corrido tudo muito bem, e ter encontrado bons médicos e enfermeiros (no geral, vá), não são dias (5, para ser mais precisa) que recorde com alegria. Para já, assume-se que se és mãe (mesmo que seja à dois minutos) tens que saber tudo. Depois, o espaço é pequeno e partilhado por várias (éramos três). Depois, o pai só pode estar contigo das 12h as 20h (como é que vais tomar o pequeno almoço, tomar banho, casa de banho, etc… e deixas a tua filha ali sozinha???). Depois a médica observa-te TODOS os dias e NÃO TROCA UMA ÚNICA PALAVRA CONTIGO. Depois, HÁ SEMPRE bebés a chorar (seja o teu, seja o do lado, seja o do quarto lá no fundo do corredor) e tu não consegues dormir (tive 5 dias naquele hospital, 4 noites sem dormir, repito 4h de privação de sono).

A saga continuou depois de sairmos de lá: no centro de saúde. Todas as vezes que fui às vacinas, senti-me “mais uma que vem para aqui chatear”. A minha filha ficou com uma médica de família, à qual ainda fomos a algumas consultas (mantendo no entanto sempre consultas com o pediatra). Mas cada vez que lá ia, a médica era mal disposta, falava comigo como se eu fosse burra e tivesse a obrigação de fazer/saber tudo o que ela lá entendia.

Posto isto tudo, evito o máximo que posso consultas ou outras coisas do género no sector público. “Armada em rica”, há quem o considere. Ou “armada em esquisita”, porque tecnicamente falando não tenho nada de negativo a referir em qualquer uma das situações que vivi. Mas a falta de humanidade esteve sempre presente. E é isto que me tira do sério. Porque as pessoas exigem tudo e mais alguma coisa. A ciência evolui, a informação evolui, tudo evolui, menos os homens. As pessoas exigem bons carros, bons telemóveis, boas instalações, bons médicos, bons professores, boas casas, boas roupas. Tudo giro, agradável e competente (não, para sermos sinceros, não, o que querem é o melhor "especialista da praça", lá que seja competente isso é outra história).

Não tenho nada a ver com as opções de cada um. Repito, não tenho nada a ver com as opções de cada um. Mas choca-me que as pessoas não exijam mais para elas próprias. [Revolta-me acima de tudo, aqueles que julgam que o dinheiro é tudo. “Não és rica, não tens dinheiro para exigir, pois não? Então come e cala”.]

Esta falta da humanidade vê-se em muitas mais outras coisas. Na falta de capacidade de se colocar no lugar do outro. Na falta de respeito pelo outro, que na maior parte das vezes nem é entendida como tal, é mais do género “então, é a minha opinião”, ou “eu digo/faço o que eu quero”, ou “que mal tem????”. O egoísmo sobrepõe-se a tudo.

Eu não sou rica. Não tenho efectivamente dinheiro para exigir tudo aquilo que gostaria. Mas sou muito exigente com aquilo que quero para mim e para os meus. E esta falta de humanidade, seja dirigida a mim, seja dirigida aqueles que me são mais próximos, é das coisas que me faz mais moer a alminha.

A humanidade evolui. Mas a humanidade das pessoas está em vias de extinção. E o que é mais grave ainda, quanto a mim, é que a maior parte das pessoas, nem vê isso.