O que vejo - diário 4
Do meu quintal...
Em frente.
Vejo o pátio com as casas dos vizinhos. Vejo os estendais de roupa que continuam a ter roupas. Vejo as senhoras a estender roupa. Vejo um bebé com 1 ano a iniciar-se a andar - às vezes com o pai, outras vezes com o avô. Vejo o meu vizinho do lado, todas as manhãs a passar a frente da minha casa, para ir ao café buscar o pão - o dele e o meu (que me deixa ali no portão, a uma distância segura).
Atrás.
Vejo um terreno enorme, cheio de ervas a crescerem por conta própria. Vejo a horta do meu vizinho.
Vejo os meus vizinhos às vezes na horta. Vejo outra casa com vizinhos, que vão aparecendo na rua e falando com os meus vizinhos do lado.
Vejo uma outra casa, com um jardim muito bem arranjado. E vejo a vizinha, várias vezes a sacudir tapetes, estender roupa, arranjar as plantas do seu jardim, e limpar.
Vejo mais casas, mas não vejo as pessoas que lá moram. Não sei se lá estão.
Sei que por aqui, as coisas não mudaram muito.
O café da aldeia está fechado. A dona só abre de manhã para vender o pão. Esse contacto social, entre todos, desapareceu.
Mas no geral, as pessoas continuam a fazer a sua vida normal. Vejo as pessoas a passarem para as hortas. Vejo as pessoas a passarem a correr. Vejo pessoas a passarem a caminhar. Vejo casais a passearem com crianças. Até aí, tudo bem.
O pior, é que continuo a ver filhos a irem almoçar a casa de pais. Netos a ficarem com avós. Velhotes a falarem uns com os outros, sem a devida distância de segurança. Tenho medo por eles. Tenho medo que estas pessoas só acordem já tarde demais.